sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Manoel de Barros





Descobri aos 13 anos que o que me dava prazer nasleituras não era a beleza das frases, mas a doençadelas.Comuniquei ao Padre Ezequiel, um meu Preceptor,esse gosto esquisito.Eu pensava que fosse um sujeito escaleno.- Gostar de fazer defeitos na frase é muitosaudável, o Padre me disse.Ele fez um limpamento em meus receios.O Padre falou ainda: Manoel, isso não é doença,pode muito que você carregue para o resto davida um certo gosto por nadas…E se riu.Você não é de bugre? – ele continuou.Que sim, eu respondi.Veja que bugre só pega por desvios, não anda emestradas -Pois é nos desvios que encontra as melhoressurpresas e os ariticuns maduros.Há que apenas saber errar bem o seu idioma.Esse Padre Ezequiel foi o meu primeiro professor deagramática.

[Manoel de Barros]

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Escolhas


Lua hoje


De todas as incertezas do mais tarde, só nos cabe o gozo do presente que se apresente. Todo o resto tende ser balela... ou bagatela das projeções.


terça-feira, 4 de novembro de 2014

Geografias






também sofro de perturas 
que não calam, não colam
insistem e dizem nada
...dupla sofreguidão






quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Eleições de prioridades



Quero mais - pra mim. Por ora, no entanto, toda minha visceralidade anda canalizada pra luta pelo bem comum. É que ocupa demais engrossar as fileiras que andam à esquerda de quem só conhece os caminhos do próprio umbigo.   






sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Humanidades do EdgeRank








Um rosto. De repente promovido ao grupo dos 9. Tudo bem que o responsável é um algoritmo, que tem vida própria e atua através de um conjunto de critérios lógicos de programação e ilógicos pra maioria de nós reles usuários. Mas apesar disso e de toda sofisticação dos robôs que determinam a nossa mirada, a minha tonteira humana me fez ver certa humanidade no EdgeRank. 





domingo, 5 de outubro de 2014

Domingo de sol







o sol a(s)cendeu
queimando a pele
ardendo a língua
sem filtro
sem anestésico
- espasmos
depois letargia









segunda-feira, 29 de setembro de 2014

As excrescências de um povo



Ano eleitoral. Debate entre os candidatos à presidência do país coroado com a fala de um dos candidatos, Levy Fidelix, em que diz que aparelho excretor não reproduz. Essa fala, além de revelar a profunda crise de representatividade política por que passa o país, diz um bocado sobre a nossa sociedade. Justifica a horda que espanca e mata homossexuais em nome de valores tacanhos, aliás amplamente incitados em rede nacional por igrejas neopentecostais. Cultivam apenas a pequenez do pensamento com o fim único de manter a população acrítica embretada na ideia maniqueísta de certo e errado, onde certo é pagar o dízimo, onde certo é, feito bactérias no lixo, reproduzir valores enviesados e mentidamente saídos das escrituras sagradas. Na carona propalam a hipócrita compreensão de que corpos se prestam pra nada mais que a reprodução humana. Um universo falso em que corpos seriam dissociados do desejo. O humano é desejante de toque, de carinho, de afeto, independentemente do sexo ou do gênero do outro humano que os entrega. Limitar as relações a dois à reprodução é negar o sentido de existência daqueles que não reproduzem. Permitir que essas ideias sejam livremente difundidas, e sequer rechaçadas durante o debate pelos demais candidatos, é assassinar o futuro de uma nação que se pretende igualitária. Viver estes tempos requer mais que coragem, impõe ação firme e combativa dos preconceitos por iniciativa de cada um que tenha mínima compreensão do que seja direito à cidadania. 








domingo, 28 de setembro de 2014

Sou sendo





...às vezes complexa, noutras perplexa, dislexa?, solta e 
também anexa a todas as outras de mim
com ou sem nexo,  apenas sou
o que já fui e sou
sendo construção e 
reinvenção de mim
nasço todo dia
deste emaranhado de 
causos 
e causas 
e cousas...

       MJ






quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Quando tirei tua roupa


Fotografia: Marc Hoppe

quando realmente prestei atenção
parei de escutar
então nada 
foi decência no que
eram gestos, olhos

boca, mãos
nem nos signos que
antes me prendiam
e escorriam soltos
nas entrelinhas 
dos bonitos discursos

[dizer passou a ser pouco
ainda que reconheça ser 
muito pros decentes que 
não te sabem tirar a roupa]

quando realmente prestei atenção
e parei de escutar
só li um homem 
nu de tudo aquilo
que me nego
carregar pro quarto
quando escancaro a porta
e quero entre_gue
abandonado
na minha devassidão

quando te vi
nu, irresistido 
fui honesta
na minha mais pura indecência 
que me faz deixar lá fora 
todas as desimportâncias que
movem o mundo
e que - quando sinto -
sinto muito
pouco se me dão

quando tirei tua roupa
nem sabia, antes 
já tinhas me posto
nua
ou, talvez, não



              MJ




quinta-feira, 24 de julho de 2014

Llosa e Neruda, diálogo



Egon  Schiele - Embrace, love




Mario Vargas Llosa: "Pablo Neruda; se um jovem poeta, de uns 15 anos, lhe pedisse um conselho relacionado com sua vocação, o que o senhor diria?"
Neruda responde: "Francamente, eu lhe diria que escrevesse, ou continuasse escrevendo versos para sua namorada, até não mais poder, até que se sinta satisfeito e pense que seu coração debulhou o fruto que tinha. Acredito que se deve começar a poesia pelo amor, possivelmente também por onde se deve terminá-la.
Naturalmente, entre esse começo e esse fim, cabe muito, cabe o mundo, a vida. Mas isso se aprende ao longo do caminho, e, só quando se aprendeu a vida e se sentiram todas as coisas, se pode cantar o que se vê."

"Dicionário amoroso da América Latina", de Mario Vargas Llosa.