terça-feira, 8 de março de 2011

Das observações do universo feminino: da hipócrita monogamia


Arte: Allen Jones


Sem querer sugerir legislação sobre as questões relacionais humanas, se existisse um código ético das relações conjugais, o artigo 1º poderia ser: nas relações de afeto não há garantias.

Indo além, algum outro artigo poderia versar sobre os desdobramentos da cruel e hipócrita monogamia exigida dos pares, pela completa dissonância à natureza [física] humana.

Cruel mesmo, no caso, talvez seja abordar este tema abertamente, e lembrar da sua origem na cultura patrimonialista, decretando a obrigatória monogamia [o mesmo vale ao celibato religioso] e que até hoje rege as relações de afeto. Um comportamento veladamente questionado e amargamente engolido, tido como fel principalmente por aqueles que iniciaram suas relações na adolescência e que não tenham intenção de desfazer a união.

Entretanto, a maioria mais cedo ou mais tarde experimenta um conflito. Querem manter a relação, mas o corpo, ainda que eventual e passageiramente, diz não ao conceito [moral] de fidelidade. Contudo, no modelo obrigatório e policialiesco monogâmico não há espaço ao eventual, passageiro. A ordem é uma só: monogamia, como se existisse monovontade, monodesejo, monoverdades.  

Por ser tão recorrente o conflito que acomete a um ou a ambos do par, é quase impensável que não haja dedicação ao esclarecimento público sobre as mazelas e perdas causadas pelo formato obrigatório de um único modelo de relação. Aliás, nos dias atuais, pensando-se o fenômeno das garantias individuais em todas as esferas, haverá ainda espaço para estereótipos relacionais em que a ordem seja a obrigação, ou subjugação à vontade alheia - ainda que se trate de um paradigma social?

O vir-a-ser, me parece, diz com a liberdade de escolha do modelo a seguir, afastando-se de vez a ideia que vincula relacionamento à posse sobre um corpo.  Se for pra ser mono, que seja por liberalidade, pelo querer, sem dever ou garantia de permanência no estado - esta se constroi, não se exige.


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9 comentários:

  1. Quanta verdade minha amiga.
    A unica regra plausivel é o "querer".
    Qualquer outra nos leva a um relacionamento hipocrita.
    O dificil, nas relações, é conseguir unir por amor, duas cabeças pensantes voltadas a um mesmo conceito.
    Derrubar o conceito de propriedade na sociedade em que vivemos, é um grande desafio.

    bjos

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  2. Perfeito, Janice. Mas acho que isso só vale para a manada, para os que perguntam à sociedade ou à família ou ao seu grupo primário: o que é bom para mim? Para os demais, aqueles que andam muitas vezes na contramão por nunca terem se perguntado para que lado fica bem seguir, aquela turma sem vínculo com o próprio conceito de turma, esse problema não existe. Pelo menos em tese, porque não estão livres, é claro, de se apaixonar por alguém da manada. E aí o bicho pega!

    Beijos

    P.S.: Em consideração a seus brios femininos, acho que vou reformular aquele textinho psico-lógico, invertendo o sexo do paciente e do psicólogo...

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  3. adoro as metamorfoses que a palavra faz quando se diz de amor.
    {as vezes demonstra-se inteligentemente maduras, outras demasiadamente infantis...
    adorei o texto.

    http://equeroquevocevenhacomigotododia.blogspot.com/

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  4. creio que o amor é querer e vontade mono...quando se é pra um...amor não se espalha ou se divide, isso, pra mim, não é amor, é desejo.
    Quando o amor existe, não existe monogamia, pois você se entrega não só aquela pessoa, mas sim, a todas as faces e polaridades dela...

    braço e bom texto...
    gostei mesmo...

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  5. Ei, guria! Que fazer o favor de postar mais?! Assim não dá, você é a minha única referência feminista confiável.

    Beijos

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  6. sou pela monogamia múltipla.
    ene amores ao mesmo tempo, mas cada um no seu horário.
    senão acaba em suruba, o que só é recomendável para os carolas, como forma de purgar os pecados reprimidos.
    amem e amém, ou vice-versa.

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  7. Não concordo com uma palavra que dizeis, mas defenderei até a morte o direito de dizê-la rsss. Copiei Voltaire. Aliás, ele iria concordar. A neurociência atual e os evolucionistas, infelizmente não.
    P.S.: Estou muito crítico, né? Prometo elogiar um pouco também rss.

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  8. o artigo 1º poderia ser: nas relações de afeto não há garantias.

    Bastaria este artigo, para explicar a natureza humana, sem confundir as coisas, liberdade com libertinagem....

    Parabéns Janice.

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  9. maria, maria...
    vejo só, quem diria...
    no olhar femino de maria,
    sua madura e verdadeira ousadia...
    maria, maria...
    feminista? Eu não diria,
    Antes, maria, simplesmente: Maria...
    Percepção de maria: p'alguns causa alergia...
    :-)))

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