sábado, 3 de janeiro de 2015

Cautelar



fotografia: Steven Meiesel



finalmente te reconheço
naquele mesmo instante 
em que fugidia
dissimulo meu medo 
de não ser a tua reinvenção

[com prova
dê-se segmento
às medidas de entrega
sem ônus

na dúvida
arquive-se
com baixa]








quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Das boas loucuras



Jack Kerouac



“Aqui estão os loucos. Os desajustados. Os rebeldes. Os criadores de caso. Os pinos redondos nos buracos quadrados. Aqueles que veem as coisas de forma diferente. Eles não curtem regras. E não respeitam o status quo. Você pode citá-los, discordar deles, glorificá-los ou caluniá-los. Mas a única coisa que você não pode fazer é ignorá-los. Porque eles mudam as coisas. Empurram a raça humana para a frente. E, enquanto alguns os veem como loucos, nós os vemos como geniais. Porque as pessoas loucas o bastante para acreditar que podem mudar o mundo, são as que o mudam.”
                Jack Kerouac 


sábado, 6 de dezembro de 2014

Para [não] amar uma outra vez


Fotografia: Keren Moskowitz


No não-amor ME TENHO - no controle[?] das causas, do tempo e espaço particulares. Uma espécie de compensação pela falta do amor romântico.
Amando ME PERCO - na causa, no tempo e espaço do outro. Uma espécie de troca entre os meus mims e os teus tis amorosos. Permuta com a falta que sinto de mim.

Um dia se descobre [ou deveria] que com ou sem, sempre falta. E se falta, qual das faltas melhor me sustenta, qual das faltas melhor se suporta [?]

Pressuposto: ter-se e perde-se, antes. Antes - e que seja cedo. Antes que seja tarde. Antes que nada mais provoque os sentidos. Antes que nada mais faça sentido.





sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Manoel de Barros





Descobri aos 13 anos que o que me dava prazer nasleituras não era a beleza das frases, mas a doençadelas.Comuniquei ao Padre Ezequiel, um meu Preceptor,esse gosto esquisito.Eu pensava que fosse um sujeito escaleno.- Gostar de fazer defeitos na frase é muitosaudável, o Padre me disse.Ele fez um limpamento em meus receios.O Padre falou ainda: Manoel, isso não é doença,pode muito que você carregue para o resto davida um certo gosto por nadas…E se riu.Você não é de bugre? – ele continuou.Que sim, eu respondi.Veja que bugre só pega por desvios, não anda emestradas -Pois é nos desvios que encontra as melhoressurpresas e os ariticuns maduros.Há que apenas saber errar bem o seu idioma.Esse Padre Ezequiel foi o meu primeiro professor deagramática.

[Manoel de Barros]

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Escolhas


Lua hoje


De todas as incertezas do mais tarde, só nos cabe o gozo do presente que se apresente. Todo o resto tende ser balela... ou bagatela das projeções.


terça-feira, 4 de novembro de 2014

Geografias






também sofro de perturas 
que não calam, não colam
insistem e dizem nada
...dupla sofreguidão






quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Eleições de prioridades



Quero mais - pra mim. Por ora, no entanto, toda minha visceralidade anda canalizada pra luta pelo bem comum. É que ocupa demais engrossar as fileiras que andam à esquerda de quem só conhece os caminhos do próprio umbigo.   






sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Humanidades do EdgeRank








Um rosto. De repente promovido ao grupo dos 9. Tudo bem que o responsável é um algoritmo, que tem vida própria e atua através de um conjunto de critérios lógicos de programação e ilógicos pra maioria de nós reles usuários. Mas apesar disso e de toda sofisticação dos robôs que determinam a nossa mirada, a minha tonteira humana me fez ver certa humanidade no EdgeRank. 





domingo, 5 de outubro de 2014

Domingo de sol







o sol a(s)cendeu
queimando a pele
ardendo a língua
sem filtro
sem anestésico
- espasmos
depois letargia









segunda-feira, 29 de setembro de 2014

As excrescências de um povo



Ano eleitoral. Debate entre os candidatos à presidência do país coroado com a fala de um dos candidatos, Levy Fidelix, em que diz que aparelho excretor não reproduz. Essa fala, além de revelar a profunda crise de representatividade política por que passa o país, diz um bocado sobre a nossa sociedade. Justifica a horda que espanca e mata homossexuais em nome de valores tacanhos, aliás amplamente incitados em rede nacional por igrejas neopentecostais. Cultivam apenas a pequenez do pensamento com o fim único de manter a população acrítica embretada na ideia maniqueísta de certo e errado, onde certo é pagar o dízimo, onde certo é, feito bactérias no lixo, reproduzir valores enviesados e mentidamente saídos das escrituras sagradas. Na carona propalam a hipócrita compreensão de que corpos se prestam pra nada mais que a reprodução humana. Um universo falso em que corpos seriam dissociados do desejo. O humano é desejante de toque, de carinho, de afeto, independentemente do sexo ou do gênero do outro humano que os entrega. Limitar as relações a dois à reprodução é negar o sentido de existência daqueles que não reproduzem. Permitir que essas ideias sejam livremente difundidas, e sequer rechaçadas durante o debate pelos demais candidatos, é assassinar o futuro de uma nação que se pretende igualitária. Viver estes tempos requer mais que coragem, impõe ação firme e combativa dos preconceitos por iniciativa de cada um que tenha mínima compreensão do que seja direito à cidadania.