quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Encapsularam minha libido?







Artigo publicado na revista Istoé noticia a chegada de quatro novos medicamentos para aumentar o prazer sexual feminino e introduz a matéria, anunciando que "uma em cada duas mulheres brasileiras sente que seu desejo sexual não é tão intenso quanto ela gostaria, não fica tão excitada quanto esperava ou enfrenta dificuldades para chegar ao orgasmo." 

Penso que o tema seja espinhoso sob o ponto de vista do real interesse dos laboratório$ para avançar neste mercado promissor da sexualidade, como revela a equação acima. Esse deveria ser nosso primeiro olhar sobre qualquer produto desenvolvido para o setor, isto pra não falar diretamente em desconfiança.


Reconhecendo que inegavelmente existam casos de distúrbios físicos que interfiram na libido feminina, seguirei achando que é em número ínfimo a quantidade de mulheres que tenham problemas nesta área decorrentes de alguma causa física. Até que provem o contrário, seguirei acreditando que contra a falta de conhecimento do próprio corpo + admiração do parceiro - dentro e fora da cama-, não inventarão pílulas mágicas capazes de fazer sentir e manter o desejo. 

A propósito disso,  aliás, vários foram os relatos que ouvi de mulheres casadas ou em relacionamentos longos, que deixaram de sentir prazer com seus parceiros, achando que era um problema físico seu. O curioso foi quando o desejo, de forma mágica, acordou de uma espécie de coma induzido pelo inconsciente, e se viu desperto, fogoso e voraz, perdido sob novos lençois num emaranhado de braços e pernas, entorpecido pelo cheiro e gosto de um outro homem. Desejo safado, esste. Foi aí que muitas delas deram adeus ao autoengano fundado na expectativa de um diagnóstico físico - que, aliás, jamais foi buscado, quanto mais devidamente sacramentado pela caneta de um profissional da saúde. 

É por nada não, mas isso não é apologia à traição - na acepção física-, nem desmerecer relacionamentos longos, iniciados na juventude. É apenas dizer da natureza humanamente humana - pois, hipocrisia negar que será feito um prêmio da loteria casar cedo, manter-se na mesma relação por anos a fio e sentir tesão por este mesmo homem 'ad eternum'. 

Leva-se muito tempo para conhecer o próprio corpo e a dinâmica de nossa sexualidade. Portanto, menos culpa e mais conhecimento sobre os elementos do 'start do desejo' antes de escolher com quem passar anos da vida. Sexo não é tudo numa relação, mas que sem ele é complicado e que a cumplicidade nesta seara faz mais felizes os pares, isto é inegável.


Link para a matéria da Istoé, publicado em 17.01.2014. 










quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

"Esquecer é lembrar em paz"


Edson Campos



Tudo que foi verdadeiramente importante não se esquece. A medida do tempo de lembrar em paz é um longe que pode ser perto, depende da devoção em compreender que se fez concluído, por aprendido. 


É preciso esquecer?
Por Luciana Chardelli
"E se pudéssemos apagar as recordações indesejáveis? Relacionamentos que não deram certo, frases cortantes, sonhos interrompidos. Um tiro certeiro e fatal nas lembranças que nos incomodam.
Se a possibilidade de apagar memórias dolentes é dar um tiro no passado que lateja, bem provável que também seja o enevoar do futuro. Sem lembranças perdemos as referências e junto a possibilidade de ser inteiro.
Por que dói quando lembramos daquilo que um dia amamos, mas que deixou de existir no presente? Dói porque no amar há uma necessidade do ato, do fato, do tempo presente e palpável. Lembrar é a vivência do que não vive mais.
Há uma irreversibilidade no tempo que por vezes não aceitamos. Esta impotência diante dos fatos, diante das amputações, dói. Dói porque somos insaciáveis em nossa sede de completude e domínio. Lembrar não basta. As lembranças são abstratas, invasivas, desobedientes, quase mal educadas. Lembrar pode ser o certificado do que não mais existe, mas ainda assim teima em existir. Há um mando impaciente e constante no sentimento da falta. Criamos uma duelo, bifurcamos os sentimentos. Não deixamos ir, não queremos que fiquem.
É preciso esquecer ou basta aprender a lembrar? Para esquecer o que dói é preciso antes lembrar de forma exaustiva, até que a lembrança se perca nas artérias das histórias, e as histórias comecem a ter falhas, e as falhas se transformem em histórias, e as histórias representem apenas histórias. Só é possível esquecer o que nos dói quando possível ser lembrado, então, percebe-se que não existe o esquecer, esquecer é apenas deixar de lembrar insistente e dolorosamente. Esquecer é lembrar em paz.

© obvious: http://lounge.obviousmag.org/luciana_chardelli/2013/12/e-preciso-esquecer.html#ixzz2pmELhd55




segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Visto e compreendido



Fotografia: Elena Kalis




Hibernava pela razão e circunstâncias. 
... há um amor que pulsa pela sede de amar até as entranhas. Tempo de despertar.






sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Amor de lavada






Amor de lavada é aquilo que provoca rupturas definitivas com um velho amor. Diante de um amor de lavada, o que um dia de fato foi, deixa de ser -embora tudo que tenha sido. Amor de lavada pode vir de um novo amor - por outra pessoa, por si. Melhor quando este precede àquele. Desconfio.







domingo, 1 de dezembro de 2013

Às vezes, tem escolha






"Sou feliz só por preguiça. A infelicidade dá uma trabalheira pior que a doença: é preciso entrar e sair dela."                                                 
                                 Mia Couto


sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Idos de Novembro. Um lamento.



A República

Idos de Novembro. 15 de Novembro de 2013. Marco na história do STF.

Não por acaso esta data, o que só reforça meu lamento pela 'forma' deste STF que aí está. Que meu lamento não se confunda minimamente com o dever de penalizar quem pratique/praticou um delito. Meu lamento diz com o circo do poder - quando circo, leia-se, é capaz de causar dano incomparavelmente maior que prejuízo ao erário público, este, além do dano material, leva alguns poucos cidadãos para a cadeia, enquanto aquele pode ferir de morte os pilares da democracia. Sê atento, cidadão, antes de festejar.
 "Ninguém ocupa impunemente o poder"




IDOS DE MARÇO

Deves sempre temer as grandezas , oh alma
Se não consegues dominar as ambições
Que tenhas, cuida então com dúvida e prudência,
De as tolerar. E quanto mais adiante fores,
Mais cuidadosa, mais inquisitiva sê.
Quando, por fim ao ápice chegares,Cesar,
Assim logrando estatura de homem celebrado,
Acautela-te inda mais ao saíres à rua.
Vistoso potentado como seu cortejo;
Se por acaso da turba aproximar-se
Algum Artemidoro que traz uma carta
E te diz : "Lê sem mais demora,
São coisas capitais que te interessam muito."
Não deixes de parar; não deixes de adiar
Qualquer negócio ou discussão : não deixes de afastar
Aqueles que se vêm prosternar para saudar-te
(tu os veras mais tarde ); o Senado também
Espera: trata pois de conhecer depressa
As momentosas novas que traz Artemidoro.

    Konstantinos Kavafis (1863-1933)


[Comentário: Caio Julio Cesar (100-44 ac. ),militar e político,conquistou a Gália e o apreço da plebe na Republica Romana. Temendo a popularidade e as possíveis ambições do líder, os conservadores patrícios do senado, mataram-no a golpe de punhais no senado.
Artemidoro,filosofo grego, conforme Suetonio, tentou alertar Cesar.Como ensinou a Revolução Francesa : “ NINGUÉM ocupa impunemente o poder...”.]
Disponível em: http://pensarsocratico.blogspot.com.br/2012/10/kavafis.html

Título: A República
Autor: Manoel Lopes Rodrigues
Data: 1893
Óleo sobre tela











sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Liberdade de sentir Pessoa





A liberdade é a possibilidade do isolamento. És livre se podes afastar-te dos homens, sem que te obrigue a procurá-los a necessidade de dinheiro, ou a necessidade gregária, ou o amor, ou a glória, ou a curiosidade, que no silêncio e na solidão não podem ter alimento. Se te é impossível viver só, nasceste escravo. Podes ter todas as grandezas do espírito, todas da alma: és um escravo nobre, ou um servo inteligente: não és livre. E não está contigo a tragédia, porque a tragédia de nasceres assim não é contigo, mas do Destino para si somente. Ai de ti, porém, se a opressão da vida, ela própria, te força a seres escravo. Ai de ti se, tendo nascido liberto, capaz de te bastares e de te separares, a penúria te força a conviveres. Essa, sim, é a tua tragédia, e a que trazes contigo.
Nascer liberto é a maior grandeza do homem, o que faz o ermitão humilde superior aos reis, e aos deuses mesmo, que se bastam pela força, mas não pelo desprezo dela.
A morte é uma libertação porque morrer é não precisar de outrem. O pobre escravo vê-se livre à força dos seus prazeres, das suas mágoas, da sua vida desejada e contínua. Vê-se livre o rei dos seus domínios, que não queria deixar. As que espalharam amor vêem-se livres dos triunfos que adoram. Os que venceram vêem-se livres das vitórias para que a sua vida se fadou.
Por isso a morte enobrece, veste de galas desconhecidas o pobre corpo absurdo. É que ali está um liberto, embora o não quisesse ser. É que ali não está um escravo, embora ele chorando perdesse a servidão. Como um rei cuja maior pompa é o seu nome de rei, e que pode ser risível como homem, mas como rei é superior, assim o morto pode ser disforme, mas é superior, porque a morte o libertou.
Fecho, cansado, as portas das minhas janelas, excluo o mundo e um momento tenho a liberdade. Amanhã voltarei a ser escravo; porém agora, só, sem necessidade de ninguém, receoso apenas que alguma voz ou presença venha interromper-me, tenho a minha pequena liberdade, os meus momentos de excelsis.
Na cadeira, aonde me recosto, esqueço a vida que me oprime. Não me dói senão ter-me doído.

                                                                  [Fernando Pessoa]







segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Audições


Gustav Klimt

Esconder-se no porão, de vez em quando, é necessidade vital. Precisamos de silêncio e solidão, e, não, apenas os poetas. Senão, corremos o perigo de nos esvairmos em som, fúria e esterilidade. O campo para que a palavra se instale para o autor e para o leitor é o campo do silêncio e da audição.
                                                                                     Adélia Prado





sábado, 5 de outubro de 2013

Poeminha embrigado






Embora todas as razões
da razão
danaram-se elas todas em seu berço
de passado e de futuro
tudo porque eu te devorava
no instante desta espumante
tal e qual o tempo das bolhinhas
do fundo à borda do copo
as felicidades são estanques
e eu com isso, quando pra mim
felicidade mora no atemporal instante
de seus efeitos? [perpétuos]