sexta-feira, 25 de março de 2011

Uns nãos, uns sims





Passar o sinal vermelho, vidas em risco, pontos numa carteira e desfalque na outra, melhor, não. Usar drogas, ilícito penal, nutriente da criminalidade, risco de encontrar com a minha droga, sequelas físicas e psíquicas, melhor, não. Caminhar sozinha à noite, tensão constante, dar sorte ao azar, melhor, não. Furar a fila no banco, instalar TV pirata, adquirir ingresso de cambista, embolsar o troco a maior, omissão frente a irregularidades éticas e legais, melhor, não. Entrar em estado de carência física e afetiva, risco de encantamento pelo primeiro diferente inadequado com que cruze, melhor, não. Dar de cara com fantasmas do passado, ceder espaço às memórias escondidas, sentir que o trem das onze ja passou, sem ter amanhã, melhor,
sim,
sem talvez.
Lançar olhares críticos, conceder chance a outras verdades, duvidar de todas elas, empreender novos caminhos, construindo trechos que sugiram desafios, melhor seguir, sim, dizendo sims à proposta de constante reinvenção - com todas as reservas aos nãos e quaisquer talvez.


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terça-feira, 8 de março de 2011

Das observações do universo feminino: da hipócrita monogamia


Arte: Allen Jones


Sem querer sugerir legislação sobre as questões relacionais humanas, se existisse um código ético das relações conjugais, o artigo 1º poderia ser: nas relações de afeto não há garantias.

Indo além, algum outro artigo poderia versar sobre os desdobramentos da cruel e hipócrita monogamia exigida dos pares, pela completa dissonância à natureza [física] humana.

Cruel mesmo, no caso, talvez seja abordar este tema abertamente, e lembrar da sua origem na cultura patrimonialista, decretando a obrigatória monogamia [o mesmo vale ao celibato religioso] e que até hoje rege as relações de afeto. Um comportamento veladamente questionado e amargamente engolido, tido como fel principalmente por aqueles que iniciaram suas relações na adolescência e que não tenham intenção de desfazer a união.

Entretanto, a maioria mais cedo ou mais tarde experimenta um conflito. Querem manter a relação, mas o corpo, ainda que eventual e passageiramente, diz não ao conceito [moral] de fidelidade. Contudo, no modelo obrigatório e policialiesco monogâmico não há espaço ao eventual, passageiro. A ordem é uma só: monogamia, como se existisse monovontade, monodesejo, monoverdades.  

Por ser tão recorrente o conflito que acomete a um ou a ambos do par, é quase impensável que não haja dedicação ao esclarecimento público sobre as mazelas e perdas causadas pelo formato obrigatório de um único modelo de relação. Aliás, nos dias atuais, pensando-se o fenômeno das garantias individuais em todas as esferas, haverá ainda espaço para estereótipos relacionais em que a ordem seja a obrigação, ou subjugação à vontade alheia - ainda que se trate de um paradigma social?

O vir-a-ser, me parece, diz com a liberdade de escolha do modelo a seguir, afastando-se de vez a ideia que vincula relacionamento à posse sobre um corpo.  Se for pra ser mono, que seja por liberalidade, pelo querer, sem dever ou garantia de permanência no estado - esta se constroi, não se exige.


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terça-feira, 1 de março de 2011

Condição




Não sou tua
[nem minha]
Sou alma
Em um corpo, percebes?
[que às vezes te empresto,
noutras pede o teu]

Se for pra pedir
Peça olhar atento
Ouvidos às falas tuas
Compreensão aos tempos teus
Que [te] sinta
Te fixe, perplexo
[no fundamento]

Parece pouco?
Sinto muito
Já senti demais
[o clichê das relações]



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