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Eros e Psiquê - Antonio Canova (1787-1794).
Na medida da experiência de um (ou uns) grande amor, tem-se a ilusória impressão de se ter aprendido sobre ele. No entanto, vem a vida - moderna em sua instantaneidade - e mostra que nada ou muito pouco se sabe, notadamente no que diz com o tempo, e com o substrato do amor.
A questão é saber que não se vive sem ele(?). E em não se suportando a vida sem o amor, a que nos dispomos, sabendo-se de alguns de seus intransponíveis limites e inexoráveis condições.
Segundo Bauman, em seu Amor Líquido "A promessa de aprender a arte de amor é a oferta (falsa, enganosa, mas que se deseja ardentemente que seja verdadeira) de construir a 'experiência amorosa' à semelhança de outras mercadorias, que fascinam e seduzem, exibindo todas essas características e prometem desejo sem ansiedade, esforço sem suor e resultados sem esforço. Sem humildade e coragem não há amor. Essas duas qualidades são exigidas, em escalas enormes e contínuas, quando se ingressa numa terra inexplorada e não mapeada. E é a esse território que o amor conduz ao se instalar entre dois ou mais seres humanos. Eros, como insiste Levinas, difere da posse e do poder; não é nem uma batalha nem uma fusão - e nem tampouco conhecimento. Eros é 'uma relação com a alteridade, com o mistério, ou seja, com o futuro, com o que está ausente no mundo que contém tudo que é... . O phatos do amor consiste na intransponível dualidade dos seres'. Tentativas de superar essa dualidade, de abrandar o obstinado e domar o turbulento, de tornar prognosticável o incognoscível e de acorrentar o nômade - tudo isso soa como um dobre de finados para o amor. Eros não quer sobreviver à dualidade. Quando se trata de amor, posse, poder, fusão e desencanto são os Quatro Cavaleiros do Apocalipse. Nisso reside a assombrosa fragilidade do amor, lado a lado com a sua maldita recusa em suportar com leveza a vulnerabilidade. Todo amor empenha-se em subjugar, mas quando triunfa encontra a derradeira derrota. Todo amor luta para enterrar as fontes de sua precariedade e incerteza, mas, se obtém êxito, logo começa a se enfraquecer - e definhar.
(...)
O desafio, a atração e a sedução do Outro tornam toda distância, que reduzida e minúscula, insuportavelmente grande. A abertura tem a aparência de um precipício. Fusão e subjugação parecem ser as únicas curas para o tormento. E não há senão uma tênue fronteira à qual facilmente se fecham os olhos, entre a carícia suave e gentil e a garra que aperta, implacável. Eros não pode ser fiel a si mesmo sem praticar a primeira, mas não pode praticá-la sem correr o risco da segunda. Eros move a mão que se estende na direção do outro - mas mãos que acariciam também podem prender e esmagar.
Não importa o que você aprendeu sobre amor e amar, sua sabedoria só pode vir, tal como o Messias de Kafka, um dia depois de sua chegada. "
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