terça-feira, 10 de maio de 2016

Ecos do Planalto Central


Pôr-do-sol em Brasília, hoje - foto: Mitzi Raeder



Hoje foi um daqueles dias que a lei de Murphy foi providencial. Esqueci o celular em casa e trabalhei até as 20h. Mais de 300 mensagens e algumas poucas ligações, afinal raramente se usa telefone celular para falar. Mesmo sem telefone e sem tempo para navegar na internet durante o dia, claro que soube da decisão do presidente interino da Câmara, através de amiga-colega que soou o alarme no comunicador interno do trabalho. Já toda prosa pro impeachment de quarta-feira e vem esta bomba estraga-prazeres perto do meio-dia. Ironia, é bom registrar.
Olho o cerco e penso: eu e 54 milhões de brasileiros só queríamos que respeitassem nosso voto. 'Só'. Antes e mais que isso, só queríamos que nossa jovem democracia seguisse seu curso desde a redemocratização. 'Só'.
Quando há muito ficou claro que, sob o manto do combate à corrupção, a intenção velada era apenas apear um partido do poder e tornar Lula inelegível, esperar mais o quê deste circo? Depois que assistimos de camarote os desmandos de um juiz de primeira instância e de um presidente da Câmara, ambos (in)devidamente apoiados pelo próprio STF, agindo como se inexistissem ritos institucionais, tudo que aconteceu desde 2014 e assistimos agora, para mim, foi, é e será pantomima daqueles que pretendem ascender ao poder e daqueles eleitores que querem vingar as sucessivas derrotas nas urnas.
Assisto ao circo pegando fogo e nada mais me surpreende. Hoje, mais um espetáculo. Não foi o pôr-do-sol que querida amiga clicou em Brasília, nem a eventual síncope de nacionalismo que acometeu ao presidente interino da Câmara Federal. O principal deles está sendo observar a inversão de papeis. Lembra aqueles relacionamentos em que um do par tem o dom de enlouquecer o outro. Aquele tipo que tem o super poder de inverter posições, fazendo da vítima o algoz durante a D(iscussão)R(elação). Como diz uma sábia amiga já idosa, se for para roubar, que seja para fazer da vítima o mal-feitor e que ele vá em cana no teu lugar. Não tem milagre nem santo neste negócio, mas assistir os moradores do serpentário bebendo do próprio veneno até que está sendo bem divertido. Não pensei que chegasse a tanto. Não falo da capacidade dos golpistas, mas de eu achar graça em alguma coisa que venha disto tudo.
Por falar em diversão. Já em casa, recuperado meu celular, retorno ligações e mensagens. Num dos retornos tenho que ouvir xalálá, convidando pra jantarzinho na semana, e tal. Veio de mais um dos que 'não vê a hora daquela mulher descer a rampa do Planalto e tudo voltar à normalidade. E não vamos falar disso, porque isso não importa'. Ah tá. Legal. Viva a diversidade de ideias! - assim não rola nem jantar. É mais uma vez o caso. Dito e redito, mas não compreendido, me convenço de que meus nãos devem estar impressos em braile. Ou, quem sabe, talvez Cunha tenha feito escola também nesta seara, irrompendo os códigos que regulam os procedimentos para atingir os objetivos - que são só seus, não meus, nem nossos.





Um comentário:

  1. Maravilhoso te ler. Sempre. Talento a toda prova. Percepção e crítica muito bem transmitidas.

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