sábado, 27 de novembro de 2010

Acerca dos véus





Apreende-se o outro a partir dos véus que colocamos sobre nosso olhar. Há véus pendurados pelo inconsciente. Outros pelo capital simbólico da informação que nos chega - julgados concientes, voluntários. Há ainda aqueles que se conjugam involuntários. E convidados a refletir sobre estes últimos, vem o outro, invade nosso particular armário de inúmeros cabides de véus coloridos, mistura-os, combina, escolhe alguns e, a seu gosto, parece ordenar: veste estes. Aderimos ou não, por liberalidade.

Conheces, então, teus véus?
É nossa função saber sua matiz, texturas, densidades para, no espetáculo da dança da vida, ter algum domínio do resultado de suas conjugações - tanto quando se está no palco, quanto na plateia, assistindo a interferência do outro.

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domingo, 21 de novembro de 2010

Resignificando o beijo

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Um dia resignificamos o beijo.
Boca tem que deixar o registro do outro.
Quantos registros você guardou aí?

A boca que me serve para beijar
Come antes minha cabeça - pelas ideias.
Palatáveis, mexem com as entranhas.
Registrou. Clac.
Pra sempre na memória.




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quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Micro-teses: casamentos duradouros

Miró


Elas casaram-se na adolescência, aos vinte e poucos, e o casamento persiste.
Hipóteses:


Era casada com o homem-olhos-somente-nela. Ele não enxergava os filhos, nem o próprio trabalho, nem nada, muito menos a si. Cansada de tanto ninar aquele filho mais velho, a libido se esvaiu. Pouco importava, nascera para ser mãe.


Era casada com o homem-agenda. Garantia de despensa abastecida e cartão de crédito sem limite. Só não conseguia garantir a presença dele, nem o amor - que dedicava à outra. Cartão de crédito e competição com a outra, a faziam consentir. Casara com a amante dele e nem sabia. A autoestima talvez nunca tivesse morado ali.


Era casada com o homem-sexual-fiel. Se cozinhava, uma mão a bolinava. Se ajeitava a casa, os olhos a devassavam. Se tomava banho, a boca murmurava genuínas frases de peão de obra. Se deitava na cama, era dever todos os dias travestir-se de mulher-robótica. Era um orifício. Nem sabia que subsistia sem outro alguém.


Era casada com o homem-sexual-infiel-sem-critérios. Flores, presentes, bom marido, bom pai, bom profissional, bom amigo, bom tudo. Pelo discurso dele, era perfeita aos seus olhos. Ela acreditava, e todas as outras quaisquer 'umas' também. Preferia não saber. Persuasivo e admirável, ela escolhia cegar, calar e ensurdecer quanto ao mais. Só esquecia de torcer para, no futuro, o corpo não responder, doente.


Era casada com o homem-diferente. Diferenças nos gostos, nos hábitos, estilo, nas escolhas. Apostou na máxima os opostos se atraem. Só não sabia que os opostos se distraem e os dispostos é que se atraem. Desconhecia que só muita boa vontade ou terapia para cessar o looping da teimosia.


Era casada com um homem-simplesmente-homem. Respeitavam-se mutuamente. E o sentimento persistiu ao longo dos anos por conta dos acordos tácitos que foram firmando e renovando no transcurso da vida a dois. Eram honestos em tudo, talvez até na mentira.




Nota - Micro-teses para casamentos iniciados na juventude, em que as escolhas são feitas a partir de atributos de valor que pouco dizem respeito às características de personalidade propriamente, as quais seriam decisivas na manutenção do vínculo e ampliação do afeto. Apesar das livres ideias, sempre bom esclarecer.


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domingo, 7 de novembro de 2010

Olfatos




Olfatos são assim como que... cheiros?
Cheiros remetem a devaneios do ente
[ou doente somente o ente?]

Cheiros remetem a viagens - no tempo -,
deslocam a lugares, momentos.
Experiências há muito, há pouco,
há qualquer hora,
há qualquer tempo
vi_vidas.

Olfatos congelam,
aproximam
repelem
entorpecem
exercem
Enfim, há argumento!
                                      [MJ, 2003]

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De tão lindo me doi




Espetáculo Riverdance - sapateado irlandês



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quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Pessoas interessantes


Print: Alex Andreyev


As pessoas mais interessantes são os homens que têm futuro
e as mulheres que têm passado. [Oscar Wilde]

Futuro para seguir tentando desvendar os segredos;
passado para compreender as diferenças.
É uma forma, não seria Oscar?



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