De tanto servir de ombro e ouvidos para mulheres das mais variadas idades, concluí algumas meias verdades. Se tem uma coisa que me incomodada são os discursos generalistas femininos de que homens são todos iguais. Em outras palavras, em bom português, esse discurso quer dizer que eles não prestam. Elas as vítimas. Eles os algozes.
Visto aqui de longe, me parece que exista uma singela explicação para o fenômeno. Que, aliás, costumo repetir para as mulheres que me trazem suas queixas sobre os meninos. Vou parecer taxativa demais no meu discurso a seguir, mas pretendo apenas navegar superficialmente sobre a regra. As execeções merecem todo o meu respeito, ressalvando as inúmeras outras verdades existentes, que ficam aqui de fora.
A regra é simples. Mulheres têm destas coisas, conhecem um fulaninho pelos caminhos da vida, o tal sujeito aparentemente preenche os requisitos para ocupar o cargo do 'pra sempre, enquanto dure', e é o que basta. Foi dada a largada para o grande tormento de dúvidas e elucubrações sem fim.
Tem um porém, uma particularidade que justifica [para elas próprias] os papeis de vítima e algoz: ele é 'o cara' para ela, mas ela não é 'a cara' para ele. A condição narcísica não a deixa ver essa obviedade cristalina. Aqui a origem do discurso que generaliza.
Dentro dessa perspectiva feminina, sem se dar conta de que ela não é 'a cara' para ele, o script será hilário. Evidentemente que cabe aqui uma ressalva ao resepeito que merecem a angústia e o desespero das meninas - mas nem por isto será menos patética a cena da vida privada quando se assiste de camarote.
Elas sequer se dão conta. É um processo incontrolável. Durante o limbo entre o dia que se conheceram e o próximo ou próximos encontros, a mulher entra em uma espécie de estado de decomposição. Se desintegra para o resto à sua volta, fica capenga, despendendo boa parte de sua energia e capacidade de pensar no que poderá ser o próximo passo dele, a próxima jogada. É a dança do acasalamento - no caso, no sentido stricto, praticada por um só.
O engraçado do processo é a capacidade de construção feminina. Em outras palavras, no bom português novamente, veem pêlo em ovo.
Ele até liga no dia seguinte. Isso não quer dizer nada, homens já aprenderam um bocado sobre as queixas femininas, então já se dispõem ao menos a cumprir o roteiro da boa educação no day after. Se ele ligou, ela lê da atitude um sinal.
Ele até chama para sair de vez em quando. De novo, isso não é medida de interesse. Homem sempre sabe quando a mulher está na dele [o inverso também é verdadeiro], por isto, na falta de programa melhor, ou necessidade de manter a média mensal de satisfação física, ou para elevar a autoestima etc, ele já sabe para quais da lista ligar. Se ele chama, ela lê disto um sinal.
Enfim, o fulaninho, inocente nesta parada, vai cumprindo um roteiro que dá margem para a fulaninha elucubrar. E o ápice da torpeza delas são as entrelinhas. Insistem não saber que não há entrelinhas, mas mulher focada em um homem será exímia nisso. Exemplo? Ele comenta en passant que no final de semana seguinte terá lua cheia. Pronto. As entrelinhas. Sucessão de 'serás'. Será que é porque ele vai chamar para assistir o espetáculo celestial? Será que pretendeu que ela tomasse a iniciativa da proposta? Será que ele quis se mostrar um romântico? Será que para ele astronomia é tema relevantíssimo e então ela devesse falar mais sobre o fenômeno?
Não será nada. E as outras hipóteses só serão o que ela precisa acreditar que seja, menos o óbvio. Ou seja, vai fazer noite de lua cheia! E ponto final. Não tem nada por trás disso. Se tivesse, ele diria.
A questão é singela. Homens, ou mulheres, quando querem, querem. Ponto. Não deixam margem para dúvidas. As atitudes são cristalinas. Investem direta e certeiramente, mesmo aos trancos e barrancos como alguns costumam agir, mas dizem a que vieram. Desconfiam da incerteza, mas apostam. Se não for assim, esqueça. Não é.
Como não é? Para as desavisadas, existe um menu básico de perguntas e respostas que contribui para não entrar no processo do tormento da elucubração. Veja-se alguns exemplos:
1.Some nos finais de semana? É a clássica das clássicas. Dispensa outros comentários
2.Liga só no fim da noite, depois da festa? Está na vida, e não pegou nada melhor.
3.Não investe em programas a dois em que a cama não seja o foco principal? A cama é o objetivo único.
4.Não a introduz no seu grupo depois de dois meses saindo juntos? a) é cedo demais para ele; b) pode ter cunho de vergonha em mostrá-la; c) tem outra que frequenta o grupo; d) N outras alternativas. Pouco importam quais sejam. Não introduziu. Não quer. Ponto.
5.Não chama para viajar? Muitas horas para administrar a convivência.
6.Não programa um cineminha, teatro ou show? Programinhas que chancelam o 'romance' conflitam com o objetivo do rapaz.
7. Para os casos em que ela é mais velha [bem mais velha]: Ele não anda de mãoszinhas dadas no shopping? Dispensa comentários. Quem aprecia diferença de idade tem que conhecer o submenu básico da diferença de idade.
8.Ele não liga nunca e quando liga justifica a ausência na falta de tempo, correrias e afins? [Essa é a hors concours das desculpas.] Ele acabou de subestimar a inteligência da moça, pois quer fazer crer que é um alienígena, alimenta-se de luz, e, portanto, não vai ao banheiro jamais!- hora bem adequada, aliás, para dar um 'oizinho' apenas, quando deseja verdadeiramente se fazer presente, mas, de verdade, não tem tempo.
Se as respostas forem sim, esqueça. Não é. Você não preenche os requisitos dele.
Conclusão. Nada de ver nestes homens os algozes. São na verdade vítimas. É que eles não têm culpa daquela mulher não preencher os seus requisitos para ocupar o posto do 'pra sempre, enquanto dure'. Nada de errado nisso. Nada de errado com ela, nada de errado com ele. Gosto é gosto. Mas nem por isso o moço é impedido de sair com a moça de vez em quando, o que não pode dar margem para concluir nada além de uma saída descompromissada.
O problema é um só. Mulheres elucubram demais em situações em que não há espaço para 'viagem'. Essas questões são preto-no-branco, pão-pão, queijo-queijo. Não tem voo solitário, é a dois. O interesse dele não é eventual, é constante. Mesmo que ali na frente um dos dois veja que não tem futuro, mesmo assim investe [aliás, em média são necessários três meses para ter uma pequena noção se vai virar romance, antes disto é suicídio qualquer aposta mais significativa. Ria, pode rir. Pois não é que tem gente que diz que ama em um ou dois meses de 'namoro', pode? Pode, embora não exista métrica para as questões do coração, a carência justifica muita precipitação, causando as clássicas confusões lá frente].
Enfim, retomando o mote da postagem que são os sinais iniciais do interesse, quando 'é' não tem muita margem para a dúvida. Demonstram a que vieram ao responder não para o questionário do menu básico de perguntas e respostas acima.
Ressalvadas as exceções, portanto, não dá para se postar de vítima. E não é nada inteligente ficar falando mal dos homens por aí, muito menos sacar da arma letal, chamada telefone celular, e ligar de madrugada só para extravasar a mágoa que ele nem sabe que causou. Não dá.