sábado, 30 de outubro de 2010

À Feira




"Um público comprometido com a leitura
é crítico, rebelde, inquieto, pouco manipulável,
e não crê em lemas que alguns fazem passar por ideias."
(Mario Vargas Llosa)


Reverência à Feira do Livro de Porto Alegre - de 29.10 a 15.11.2010.

Mecanismo de inclusão social: para cada brinquedo de presente, um livro. (MJ)


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domingo, 24 de outubro de 2010

Das observações do universo feminino - Tese das elucubrações





De tanto servir de ombro e ouvidos para mulheres das mais variadas idades, concluí algumas meias verdades. Se tem uma coisa que me incomodada são os discursos generalistas femininos de que homens são todos iguais. Em outras palavras, em bom português, esse discurso quer dizer que eles não prestam. Elas as vítimas. Eles os algozes.

Visto aqui de longe, me parece que exista uma singela explicação para o fenômeno. Que, aliás, costumo repetir para as mulheres que me trazem suas queixas sobre os meninos. Vou parecer taxativa demais no meu discurso a seguir, mas pretendo apenas navegar superficialmente sobre a regra. As execeções merecem todo o meu respeito, ressalvando as inúmeras outras verdades existentes, que ficam aqui de fora.

A regra é simples. Mulheres têm destas coisas, conhecem um fulaninho pelos caminhos da vida, o tal sujeito aparentemente preenche os requisitos para ocupar o cargo do 'pra sempre, enquanto dure', e é o que basta. Foi dada a largada para o grande tormento de dúvidas e elucubrações sem fim.

Tem um porém, uma particularidade que justifica [para elas próprias] os papeis de vítima e algoz: ele é 'o cara' para ela, mas ela não é 'a cara' para ele. A condição narcísica não a deixa ver essa obviedade cristalina. Aqui a origem do discurso que generaliza.

Dentro dessa perspectiva feminina, sem se dar conta de que ela não é 'a cara' para ele, o script será hilário. Evidentemente que cabe aqui uma ressalva ao resepeito que merecem a angústia e o desespero das meninas - mas nem por isto será menos patética a cena da vida privada quando se assiste de camarote.

Elas sequer se dão conta. É um processo incontrolável. Durante o limbo entre o dia que se conheceram e o próximo ou próximos encontros, a mulher entra em uma espécie de estado de decomposição. Se desintegra para o resto à sua volta, fica capenga, despendendo boa parte de sua energia e capacidade de pensar no que poderá ser o próximo passo dele, a próxima jogada. É a dança do acasalamento - no caso, no sentido stricto, praticada por um só.

O engraçado do processo é a capacidade de construção feminina. Em outras palavras, no bom português novamente, veem pêlo em ovo. 

Ele até liga no dia seguinte. Isso não quer dizer nada, homens já aprenderam um bocado sobre as queixas femininas, então já se dispõem ao menos a cumprir o roteiro da boa educação no day after. Se ele ligou, ela lê da atitude um sinal.

Ele até chama para sair de vez em quando. De novo, isso não é medida de interesse. Homem sempre sabe quando a mulher está na dele [o inverso também é verdadeiro], por isto, na falta de programa melhor, ou necessidade de manter a média mensal de satisfação física, ou para elevar a autoestima etc, ele já sabe para quais da lista ligar. Se ele chama, ela lê disto um sinal.

Enfim, o fulaninho, inocente nesta parada, vai cumprindo um roteiro que dá margem para a fulaninha elucubrar. E o ápice da torpeza delas são as entrelinhas. Insistem não saber que não há entrelinhas, mas mulher focada em um homem será exímia nisso. Exemplo? Ele comenta en passant que no final de semana seguinte terá lua cheia. Pronto. As entrelinhas. Sucessão de 'serás'. Será que é porque ele vai chamar para assistir o espetáculo celestial? Será que pretendeu que ela tomasse a iniciativa da proposta? Será que ele quis se mostrar um romântico? Será que para ele astronomia é tema relevantíssimo e então ela devesse falar mais sobre o fenômeno? 

Não será nada. E as outras hipóteses só serão o que ela precisa acreditar que seja, menos o óbvio. Ou seja, vai fazer noite de lua cheia! E ponto final. Não tem nada por trás disso. Se tivesse, ele diria.

A questão é singela. Homens, ou mulheres, quando querem, querem. Ponto. Não deixam margem para dúvidas. As atitudes são cristalinas. Investem direta e certeiramente, mesmo aos trancos e barrancos como alguns costumam agir, mas dizem a que vieram. Desconfiam da incerteza, mas apostam. Se não for assim, esqueça. Não é.

Como não é? Para as desavisadas, existe um menu básico de perguntas e respostas que contribui para não entrar no processo do tormento da elucubração. Veja-se alguns exemplos:

1.Some nos finais de semana? É a clássica das clássicas. Dispensa outros comentários

2.Liga só no fim da noite, depois da festa? Está na vida, e não pegou nada melhor.

3.Não investe em programas a dois em que a cama não seja o foco principal? A cama é o objetivo único.

4.Não a introduz no seu grupo depois de dois meses saindo juntos? a) é cedo demais para ele; b) pode ter cunho de vergonha em mostrá-la; c) tem outra que frequenta o grupo; d) N outras alternativas. Pouco importam quais sejam. Não introduziu. Não quer. Ponto.

5.Não chama para viajar? Muitas horas para administrar a convivência.

6.Não programa um cineminha, teatro ou show? Programinhas que chancelam o 'romance' conflitam com o objetivo do rapaz.

7. Para os casos em que ela é mais velha [bem mais velha]: Ele não anda de mãoszinhas dadas no shopping?  Dispensa comentários. Quem aprecia diferença de idade tem que conhecer o submenu básico da diferença de idade.

8.Ele não liga nunca e quando liga justifica a ausência na falta de tempo, correrias e afins? [Essa é a hors concours das desculpas.] Ele acabou de subestimar a inteligência da moça, pois quer fazer crer que é um alienígena, alimenta-se de luz, e, portanto, não vai ao banheiro jamais!- hora bem adequada, aliás, para dar um 'oizinho' apenas, quando deseja verdadeiramente se fazer presente, mas, de verdade, não tem tempo.

Se as respostas forem sim, esqueça. Não é. Você não preenche os requisitos dele.

Conclusão. Nada de ver nestes homens os algozes. São na verdade vítimas. É que eles não têm culpa daquela mulher não preencher os seus requisitos para ocupar o posto do 'pra sempre, enquanto dure'. Nada de errado nisso. Nada de errado com ela, nada de errado com ele. Gosto é gosto. Mas nem por isso o moço é impedido de sair com a moça de vez em quando, o que não pode dar margem para concluir nada além de uma saída descompromissada.

O problema é um só. Mulheres elucubram demais em situações em que não há espaço para 'viagem'. Essas questões são preto-no-branco, pão-pão, queijo-queijo. Não tem voo solitário, é a dois. O interesse dele não é eventual, é constante. Mesmo que ali na frente um dos dois veja que não tem futuro, mesmo assim investe [aliás, em média são necessários três meses para ter uma pequena noção se vai virar romance, antes disto é suicídio qualquer aposta mais significativa. Ria, pode rir. Pois não é que tem gente que diz que ama em um ou dois meses de 'namoro', pode? Pode, embora não exista métrica para as questões do coração, a carência justifica muita precipitação, causando as clássicas confusões lá frente].

Enfim, retomando o mote da postagem que são os sinais iniciais do interesse, quando 'é' não tem muita margem para a dúvida. Demonstram a que vieram ao responder não para o questionário do menu básico de perguntas e respostas acima.

Ressalvadas as exceções, portanto, não dá para se postar de vítima. E não é nada inteligente ficar falando mal dos homens por aí, muito menos sacar da arma letal, chamada telefone celular, e ligar de madrugada só para extravasar a mágoa que ele nem sabe que causou. Não dá.

A singeleza do quadro 'a vida como ela é' está no seguinte: homens não são todos iguais [assim como mulheres], você que não é o número dele[a]. Mas nem por isso você não será 'a pessoa' para outro alguém. Questão de percepção e autoestima. Para quê complicar?


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sábado, 16 de outubro de 2010

Minha moeda de troca




Minha moeda de troca são ideias e atitudes.
Ideias de quem faça diferente, faça a diferença.
Dispense tratamento desigual, para igualar a diferença.
Atitudes alinhadas à aceitação.
À compreensão
De que há muito a ser feito
a ser descoberto,
A qualquer tempo, pois crescente
- embora a finitude.

Troco com quem conjuga o verbo no tempo presente, porque faz.
Constroi a liberdade.
E faz-se livre nos exatos limites da liberdade alheia.
Não tão insanos a ponto de feri-la,
Nem tão sanos a ponto de temer o rompimento com o tido normal.
Porque normose sugere 'mornose',
É quase quente, é quase frio.
É quase algo
Um nada ser.

Troco com quem diz sim.
E com quem diz não.
Porque o talvez não posiciona.
E não posicionar
É não dar a conhecer.
É estático, amorfo.
[Embora movimento hoje
não guarde relação com falas,
signifique apenas girar
a moeda circulante.]

Troco com quem duvida do absoluto,
Rejeita o estereótipo,
Acolhe a ideia de boa-fé de todos os atos.
E onde houver desalinho,
Não sentencia
Sem antes dar a saber
A origem do desajuste.

Troco com quem enxerga para além do cotidiano,
Mas que vislumbra a graça da rotina.
Que faz no presente, e sonha o futuro.
Ciente de que é corrente.
Que tudo muda de lugar.

Troco com quem não nega o passado,
Que encontra força e valor
Quando compreende ser ele substância
Do agora e do porvir.
[Qualifica o ser,
e o vir-a-ser?]

Troco, acima de tudo, com quem sente.
Quando sentir é capacidade, desejo
De acarinhar tudo que faça
Tudo na volta,
Todos à volta.
De amar.

E por saber do amor,
Compreende o cáustico no olhar
E na língua
- que falam.
Ciente ser o ácido
Elemento circunstancial
- por  passageiro.
Como passageiros são os alvoreceres
As fases da lua,
O movimento das marés.
Assim como os amores que pareceram
E por parecência
Deixei ir.
- e os que se fizeram
guardo até hoje
dentro [e fora] de mim.

Troco com quem vê o mundo para além do universo individual.
Troco por substratos.





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sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Quer o quê de mim?

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"Caço olhos como Ernest Hemingway caçava tigres. Os bonitos, guardo em delicados aquários azuis. Os frios, como lâminas bimetálicas, prego em telas que imitam Basquiat. Os arrogantes, desde que não sejam de pop stars, destruo com balas dundum. Os normais demais nem valem o esforço de ser retirados das órbitas.
Quem me olha assim quer o quê de mim? Conversar? Saber se sou fã de Sean Penn? Se vou pegar um avião amanhã e ver a ressaca do mar na Praia do Arpoador? Saber o meu signo? Oferecer sexo quente e seguro? Convidar para ouvir Kings of Leon na madrugada? Me mostrar poemas de desespero? Pedir o número do meu celular e ligar antes de se atirar do 14º andar?"



[Excerto de texto publicado originalmente na coluna Hagamenon Brito, no jornal CORREIO -assim me foi repassado, desonhecendo a autoria.]




terça-feira, 12 de outubro de 2010

Das observações do universo feminino - Tese dos brinquedinhos


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Depois que uma mulher chega à fase adulta, e com sorte se fizer adulta, uma fonte de diversão pode ser ter um brinquedinho. Mas para saber se divertir com um é requisito ter bem claras certas normas e as funções.

Brinquedinhos se prestam para a fase da entressafra das relações, em que a mulher escolha passar uma temporada sozinha ou esteja garimpando o próximo, que espera seja o 'pra sempre, enquanto dure'.

Brinquedinhos terão duas principais funções, das múltiplas que poderão desempenhar. A função primeira é garantir prazer. Precisam estar empenhados em dar prazer. Isso é simples, pois é item de série, vem de fábrica. É o mais fácil de encontrar no mercado. Se prestar bem atenção dá em árvores, é só chocalhar os galhos que cai meia dúzia ou mais. Dos relatos das mulheres, dizem que todos vêm com o mesmo manual de instruções, repetem os mesmos procedimentos e com muita dedicação. Aliás, é comentário recorrente, chegam a cansar de tanto empenho, desconconfiando as mulheres que eles ainda não tenham descoberto o ponto certo. Pecam pelo excesso. Tudo bem, enquanto brinquedinhos o defeito vira qualidade. Esses, pode-se escolher por tamanho, por textura, número, cor, cheiro, idade. Sim, idade. Eles são humanos.

Brinquedinhos humanos. Pode parecer, mas não tem nada de pejorativo. Pelo contrário, exercem especial papel e gostam do papel. Talvez pejorativos sejam os adjetivos que muitos dariam para interpretar o comportamento daquelas que se utilizam deles.

Brinquedinhos servem para os prazeres delas sem que sintam o desprazer e risco de pular de galho em galho, evitando a queixa feminina do vazio do day after. Brinquedinho é coisa séria. É fixo. E ele sabe dos limites do seu papel. Não tem jogos. Fazem acordo. É dita claramente a função e só é dita porque brinquedinho não serve para namorar, é só para brincar. Tem um gene que não permite mulher inteligente admirar, de modo a se apaixonar.

Embora dê em árvores, brinquedinho não é qualquer uma das frutas que caem do pé. Brinquedinho tem que ter afinidades. Vira amigo, às vezes até confidente. Por isso que brinquedinho é escolhido não só pela cor, altura e outros atributos físicos, mas intelecto também, senão não é brinquedinho.

Cada uma elegerá as características que julgar necessárias para fazer manter a parceria com o brinquedinho. Pode ser o engraçado, que faz tudo virar piada. O sedutor incorrigível, vulgo eleva-autoestima, que mexe com a estima até de poste na rua. Pode ser o bom moço, carinhoso, atencioso, sensível e que  seria quase um irmão não fosse o item de série encravado na genética da criatura. Pode ser o acadêmico-filosófico, ou apenas filosófico simplesmente, que ajuda a melhorar ou criar novas teses sobre... tudo.

Mas a fundamental função do brinquedinho é a segunda. Brinquedinhos servem, finalmente, para desacelerar a pressa de encontrar o namorado de carteirinha ou marido, pois afasta a cegueira da carência, que é a mão inimiga que conduz a autoestima para o centro da terra, fazendo fulaninhas jogarem-se no primeiro 'inho' que lhes acene com o dedo.

Diz a lenda que mulheres que sabem brincar conseguem observar mais calma e conscientemente, dentre aqueles que não dão em árvores, quem serviria para ocupar o posto de afim.
[Por ser lenda, melhor prestar atenção para ver se tem algum cunho de verdade nisso.]


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sábado, 9 de outubro de 2010

Bom é não ter certeza

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Para acompanhar almas inquietas
O bom mesmo é um passaporte estampado de inquietudes
Com carimbos de vistos a desafios apenas imaginados
Pois que a escolha do destino é sempre com base no inusitado.

Sei quase nada de tudo
e quase tudo me parece tão óbvio.


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